Pra quem acha que representatividade não faz diferença, esse é o desenho que minha filha mais gosta, já assistiu a temporada 2 umas 5-10 vezes inteiras: os Irmãos Kratts.

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Irmãos Kratts! É excelente, e se entenderem que meus comentários abaixo são uma crítica a esta produção, leiam com mais calma!

É um desenho sobre esses dois irmãos, os Kratts, que viaja mundo afora estudando animais selvagens usando um traje que transforma eles em animais. Aí tem uns vilões, os trajes não estão completos, então eles precisam estudar os animais pra replicá-los, bem bacana.

Mas quando ela vai brincar, ela gosta de fingir que é aquela moça de amarelo no canto dessa arte. A sorte é que nesse desenho essa moça é a cientista que criou os trajes, então dá pra explorar bem a brincadeira com ela. Se não ela ia ser igual aquela secretária do Arrow…

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Tenho a ligeira impressão de que ela foi colada nessa imagem

Como um exemplo anedótico, Adam Ruins Everything, um programa sobre a história por trás de mitos e sensos comuns, explica em um episódio como os videogames se tornaram uma “coisa de menino”, excluindo as meninas da brincadeira.

Infelizmente não sei como acompanhar esse programa aqui no Brasil…

A Atari e suas contemporâneos não tinham essa distinção (não mais do que uma empresa de eletrônica teria nos anos 80, veja bem), mas depois do estouro da bolha dos videogames, quando a Nintendo surge com seu NES pra conseguir encaixar videogame de novo na cabeça das pessoas, foi preciso colocá-lo junto com as prateleiras de brinquedos comuns nas lojas. Fizeram a escolha pelas prateleiras de brinquedos de menino, e a publicidade tomou esse rumo.

Um web doc sobre a crise dos videogames na década de 80. Se você já está torcendo o nariz porque é um vídeo do Velberan, você já conhece videogames o suficiente pra não precisar assitir, ok?

Resultado, quatro décadas de uma quase exclusividade de publicidade e market share de jogos para meninos, ignorando a existência do público feminino quase que completamente. As meninas não necessariamente pararam de jogar videogames, os jogos é que começaram a ficar chatos para elas.

Somos animais sociais: individualismo hominídeo é inocência ou ideologia. Crianças e adolescentes são muito influenciados pelo meio em que vivem Não do jeito que se acreditasse que seriam influenciados: não é o caso de que “jogar videogame violento gera uma criança violenta” ou que alterações de personalidade, inteligência ou coisa parecida sejam meramente ditados pelo ambiente. Não é assim que o cérebro funciona.

Não somos uma tábula rasa, socialistas. Sinto muito. Nem geneticamente hierárquicos, nazistas (aliás, saiam do meu blog).

Antes de sair chutando regras baseadas em ideologias, é preciso entender melhor outros aspectos do comportamento humano. E uma das coisas que estamos aprendendo, observando e estudando (e ganhando dinheiro com isso), é que representatividade no entretenimento é agradável para as crianças. Elas gostam de ver os bonequinhos com sua cor de pele, suas roupas, seus trejeitos, seu gênero, etc.

No caso de Irmãos Kratts, existe uma justificativa plausível: tratam-se de dois irmãos que realmente existem. E a personagem que minha filha é fã ainda tem um papel bacana na história. O mesmo não pode ser dito sobre os outros dois amigos, que são mais espectadores encarnados na história para render diálogos explicativos do que serem os herois. Só que esse problema é geral: desenhos para crianças menores já estão despertando para uma representatividade maior, mas falta um bocado ainda.

De toda a lista de animações que minha filha gosta, apenas Vera tem uma protagonista feminina. Patrulha Canina são uns 10 cachorros, duas fêmeas; PJ Masks tem um trio, dois meninos para uma menina (e o menino principal é o clássico dos clássicos); Hora do Justin; Sonic Boom; Leo e Tig… eu tentei apresentá-la a She-ra e Carmen Sandiego, mas ela não está nessa idade ainda.

Curiosidade: Vera, uma produção original da Netflix, tem vários títulos diferentes na plataforma. Logo, aparece várias vezes quando você zapeia pelos títulos disponíveis.

A publicidade já percebeu e já está fazendo as empresas lucrarem muito com isso. Aliás, uma dica: se a publicidade está se direcionando para um lado, vá até lá entender o que está acontecendo, ao invés de já julgar que sabe.

São pessoas que ganham dinheiro com isso, então eles provavelmente entendem de sociedade tanto ou mais que os professores. Ser cético e científico não implica em desprezar outras fontes de conhecimento. Quem faz isso são os intelectuais.

Talvez um dia faço um texto sobre a diferença entre um intelectual e um cientista – já adianto que não são conceitos excludentes, embora pareça ser o caso..

Até mais ver!
PS: Senti-me ótimo escrevendo de novo. Preciso fazer isso mais vezes!